terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Despertar da Primavera valeu a pena!

Semana passada tive o imenso prazer de assistir ao espetáculo musical “O Despertar da Primavera” do dramaturgo alemão Frank Wedeking, que virou musical da Broadway em 2006 e que foi adaptada para o Brasil em 2009. Não tenho como não elogiar o trabalho dos “Irmãos Caixa Preta”, Fernando Barbosa e Fabiano Muniz pela impecável produção, e por que não dizer do atrevimento de encenar tal espetáculo. Atrevimento porque para quem não sabe, todos os atores em cenas saíram de uma oficina de teatro realizada pelo Grupo Caixa Preta de Teatro, naquele palco não havia nenhum ator, dançarino ou cantor profissional, mas se eu não soubesse de onde vieram eu diria totalmente o contrário. Vi naquele palco o melhor espetáculo musical já encenado em todo o Vale do Ribeira, abordando um tema de poesia e liberdade, de descobertas da juventude, de conflitos e de temas muito mais sérios e profundos como a opressão e descoberta da sexualidade, abuso sexual, religião, suicídio, incesto, violência doméstica, homossexualismo, drogas, prostituição, gravidez na adolescência e aborto. Com 14 atores e 7 músicos executando a trilha sonora ao vivo, vi aquele pequeno palco se transformar em um grande palco de qualquer grande teatro que se possa imaginar, não vi atores de oficina de teatro e sim assisti a um espetáculo com grandes atores, ótimos intérpretes e maravilhosos dançarinos que sem dúvida nenhuma fizeram de todas as noites uma estreia, tamanha foi a presença marcante de todos os atores que na segunda semana de espetáculo (quando fui assistir) não demostravam qualquer cansaço ou displicência, lembrando que o espetáculo tem quase 3 horas de duração dividido em 2 atos. Fiquei impressionado com a qualidade dos músicos, um contrabaixo, uma guitarra, uma bateria, um teclado, um violino, uma viola clássica e um cello, propositalmente localizados no centro do cenário e que não ofuscaram a nenhuma cena, mas que fizeram a diferença, uma inovação primordial no espetáculo. Não posso esquecer-me da iluminação, desde o início do espetáculo usando lanternas como mini canhões iluminação, passando por jogos de cores e finalizando mais uma com as lanternas na maviosa cena do cemitério, sensacional. Pessoalmente achei bárbara a montagem, pois o Caixa Preta soube dar ao texto a sua cara sem fugir do padrão Broadway, dando a todos nós o deleite desta peça forte e emocionante. Figurinos, iluminação, sonografia e cenografia de altíssima qualidade, sabendo dar o tom que cada cena demandava. Mas ao que devo realmente me render, repito sem me cansar, é ao talento de cada um dos componentes do elenco, que são divinos, parece que nasceram preparados para esses personagens a vida toda. Não sou crítico teatral, nem tão pouco preciso “puxar a sardinha” de ninguém, mas tenho de fazer a aqui minha análise sobre este espetáculo: lindo, maravilhoso e muito atrevido. Falar de temas tão pesados e reais que infelizmente ainda são realidades nas mentes e nos corações de inúmeros jovens de forma sutil e lírica é o que faz de “O Despertar da Primavera” uma verdadeira obra de arte. Foi um tapa na cara da hipocrisia e uma alegria para os corações aflitos. Destaque para os musicais “Mamãe me ensina!”, “Nessa merda de vida!” e “Canção de um verão!”. Para que falou mal, meus sentimentos por não ter compreensão suficiente para entender a mensagem que foi passada, aos que não assistiram, não percam a próxima temporada, ao Grupo Caixa Preta de Teatro, meus sinceros parabéns, pela qualidade, pelo empenho, pela capacidade e principalmente pela ousadia. Silvio Morenno